Os melhores livros cearenses de 2023
No ano de 2023, é importante fazer um balanço do que aconteceu e, para complementar essa análise, farei um ranking dos bons livros cearenses.
No ano de 2023, é importante fazer um balanço do que aconteceu e, para complementar essa análise, farei um ranking dos bons livros cearenses. Antes disso, porém, precisamos entender o que caracteriza um livro cearense.
Livros cearenses são aqueles escritos e editados por pessoas que fazem parte do campo cultural local. No entanto, dois livros em particular estão fora dessa definição: os livros de Lira Neto e Socorro Acioli. Apesar disso, eles ainda são incluídos nesta lista porque esses autores continuam trabalhando dentro do campo cultural cearense, embora agora tenham conquistado reconhecimento nacional impulsionados pela indústria editorial de São Paulo.
Para melhor compreensão da posição dos nossos artistas dentro ou fora desse contexto cultural, podemos usar uma analogia com os movimentos da Terra ao redor do sol. A tradução seria representada pelos artistas ou projetos que contam com o apoio da indústria cultural em São Paulo/Rio, enquanto a rotação representa os artistas e projetos culturais produzidos no Ceará e guiados pelo seu próprio campo e audiência local.
Agora surge uma pergunta frequente: o que é exatamente esse campo cultural mencionado? O sociólogo francês Pierre Bourdieu conceitua-o como um espaço social com suas próprias regras, hierarquias e agentes que competem por poder simbólico, político e econômico. É um ambiente complexo de relações sociais onde ocorrem conflitos e tensões entre seus membros.
Dentro desse campo cultural brasileiro existe o espaço específico do livro cearense. O Ceará é parte dessa periferia (Nordeste) de uma periferia (São Paulo e Rio) na cultura globalizada. É uma sociedade agrária cuja alfabetização foi tardia e ainda decodifica lentamente as mensagens escritas. Além disso, há uma certa anti-intelectualização entre a elite cearense devido às tradições comerciais e ao catolicismo oral.
Curiosamente, Capistrano de Abreu, renomado historiador cearense nascido em Maranguape, deixou o Ceará para sempre sem pretensão de retornar. Quando partiu em uma jangada rumo ao Rio de Janeiro, ele pisou nas tábuas do assoalho da embarcação exclamando: “Esta terra nunca mais verá meus pés”. E assim foi. Capistrano nunca mais retornou ao Ceará.
Na época em que Capistrano deixou o estado para sempre (Fortaleza tinha cerca de 20 mil habitantes), havia apenas duas livrarias na cidade. Hoje Fortaleza conta com quase três milhões de habitantes e quatro livrarias físicas: duas Leitura no shopping Iguatemi e duas Arte Ciência no bairro Benfica Centro.
Capistrano fugia da limitação sufocante de um frágil campo cultural carente de livrarias, bibliotecas e autonomia intelectual ou política por parte dos leitores locais.
Apesar disso, muita coisa mudou desde então graças aos esforços em direção à educação – iniciativas bem-sucedidas que tiveram como base as ideias do pai do autor deste texto (Edgar Linhares) para as escolas públicas. Infelizmente, algumas elites intelectuais tentaram reduzir essas ideias a meros interesses econômicos. Mesmo assim,
esses esforços saírammos últimos lugares nos indicadores educacionais básicos.
Agora voltamos à pergunta inicial: onde está a leitura? Ainda existem desafios a superar na cultura literária cearense, mas já podemos notar avanços significativos na criação literária local através dos bons livros lançados por autores cearenses contemporâneos.
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No ano de 2023, é importante fazer um balanço do que aconteceu e, para complementar essa análise, farei um ranking dos bons livros cearenses. |
Livros cearenses são aqueles escritos e editados por pessoas que fazem parte do campo cultural local. No entanto, dois livros em particular estão fora dessa definição: os livros de Lira Neto e Socorro Acioli. |
Para melhor compreensão da posição dos nossos artistas dentro ou fora desse contexto cultural, podemos usar uma analogia com os movimentos da Terra ao redor do sol. |
Agora surge uma pergunta frequente: o que é exatamente esse campo cultural mencionado? O sociólogo francês Pierre Bourdieu conceitua-o como um espaço social com suas próprias regras, hierarquias e agentes que competem por poder simbólico, político e econômico. |
Dentro desse campo cultural brasileiro existe o espaço específico do livro cearense. O Ceará é parte dessa periferia (Nordeste) de uma periferia (São Paulo e Rio) na cultura globalizada. |
Curiosamente, Capistrano de Abreu, renomado historiador cearense nascido em Maranguape, deixou o Ceará para sempre sem pretensão de retornar. |
Na época em que Capistrano deixou o estado para sempre (Fortaleza tinha cerca de 20 mil habitantes), havia apenas duas livrarias na cidade. |
Apesar disso, muita coisa mudou desde então graças aos esforços em direção à educação – iniciativas bem-sucedidas que tiveram como base as ideias do pai do autor deste texto (Edgar Linhares) para as escolas públicas. |
Agora voltamos à pergunta inicial: onde está a leitura? Ainda existem desafios a superar na cultura literária cearense, mas já podemos notar avanços significativos na criação literária local através dos bons livros lançados por autores cearenses contemporâneos. |
Com informações do site O POVO.